quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Só arroto de boi equivale a 69% dos gases-estufa por desmate no Cerrado

Estudo pede investimento em tecnologia para baixar liberação de metano.
Emissão da pecuária cai menos do que desmatamento entre 2003 e 2008.

As emissões de metano liberadas por arrotos de bois e vacas que pastam no Cerrado equivalem a nada menos que 69% do total de gases-estufa emitidos por desflorestamento e queimadas para pastagens nessa região. O bom funcionamento estomacal do gado libera metano (CH4), um gás suficientemente potente para entrar nos cálculos do aquecimento global .

Na Amazônia o rebanho bovino não é tão ambientalmente incorreto: a fermentação entérica naquele bioma equivale a 10% do estrago causado para implantar pastagens.

Os dados são de estudo coordenado por Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Roberto Smeraldi, da ONG Amigos da Terra – Amazônia Brasileira. O trabalho mostra, pela primeira vez, que metade das emissões de gases-estufa do Brasil vem da pecuária .

Para reduzir essa fermentação nociva ao planeta, os especialistas recomendam melhoria genética do rebanho e “melhoria na dieta”: rações complementares, capim e leguminosas com menor potencial de emissão, aditivos e vacinas.

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Brasil tem um boi ou vaca para cada habitante
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O Brasil tem aproximadamente 190 milhões de cabeças de gado, o maior rebanho bovino comercial do mundo. Dá um boi ou vaca para cada habitante. As exportações da carne representam cerca de 24% da produção total, sendo a Rússia a maior importadora.

A boa notícia é que as emissões da pecuária recuaram de 1,090 bilhão de toneladas para 813 milhões entre 2003 e 2008, seguindo o recuo do desmatamento em si. Na Amazônia, o recuo foi de 775 milhões para 499 milhões; no Cerrado, 231 milhões para 229 milhões; no resto do país, 87 milhões para 84 milhões.

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Estimativas são conservadoras, ressalva grupo de pesquisa
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O problema é que o avanço das pastagens cai quando o desmatamento cai, mas cai menos, explicou Smeraldi ao G1. Em outras palavras, nos anos em que há recuo do desmatamento, a parcela para pastagens na área destruída é maior.

A implicação é clara: à medida que o Brasil avançar na diretriz de baixar 80% o desmatamento até 2020, crescerá a importância da pecuária como elemento de resistência à queda das emissões nacionais.

Os dados podem ser vistos como ameaça ao negócio, porque com custo de carbono ele ficaria mesmo inviável, mas também revelam uma oportunidade de ajuste rentável para o setor"
As estimativas foram qualificadas pelos próprios pesquisadores como conservadoras, porque não entraram na conta fontes complementares de gás-estufa. Fontes complementares são, por exemplo, as envolvidas na produção de ração e no transporte do gado, da carne e no seu beneficiamento industrial primário. Não foi considerado o desmatamento para formação de pastagens em outros biomas além de Amazônia e Cerrado.

O estudo considerou as três fontes principais de emissão na pecuária: desmatamento e queimadas para formação de pastagem; queimadas das próprias pastagens e fermentação entérica do gado.

Os principais números da pesquisa foram divulgados nesta quinta-feira (10) e serão apresentados em duas reuniões sábado (12) na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP 15 . Os autores (ao todo, dez especialistas) ressaltam que suas conclusões “não representam necessariamente” a posição das instituições em que atuam.

“As informações permitem balizar o mercado para os investimentos necessários. Até hoje era uma coisa muito subjetiva”, disse Smeraldi. “Os dados podem ser vistos como ameaça ao negócio, porque com custo de carbono ele ficaria mesmo inviável, mas também revelam uma oportunidade de ajuste rentável para o setor.”

Além de Mercedes, Nobre e Smeraldi, o estudo “Estimativa de emissões recentes de gases de efeito estufa pela pecuária no Brasil” é resultado do trabalho dos especialistas Alexandre de Siqueira Pinto (UnB), Ana Paula Dutra de Aguiar, Jean Ometto e Karla Longo (Inpe), Laerte Guimarães Ferreira (Universidade Federal de Goiás, UFG), Luís Gustavo Barioni (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa) e Peter May (Amigos da Terra – Amazônia Brasileira).


fonte: G1

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