quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O segredo da longevidade

Pela primeira vez, cientistas identificaram o conjunto de genes que nos faz viver mais. Seremos capazes de retardar nosso envelhecimento?

A gaúcha Olivia Franco da Silva faz questão de manter os costumes nutridos ao longo de seus 101 anos. Assim que acorda em sua casa em Alvorada, região metropolitana de Porto Alegre, acende um cigarro. A única diferença é que ela trocou há 15 anos o fumo enrolado em palha, igual ao que roubava da mãe desde os 8 anos, pelos cigarros industrializados. Torresmo, ovo frito e linguiça fazem parte do seu café da manhã. “Se não tiver isso, ela não come”, diz Hevelin Ferreira, de 28 anos, uma de suas mais de 20 netas. Olivia não gosta de comidas “finas” – como chama o arroz e feijão feito com pouco óleo. Para ela, os alimentos devem ser preparados em banha de porco, como seus pais faziam quando moravam na roça. Nos finais de semana, Olivia não recusa uma dose de cerveja preta. Caipirinha só se for de cachaça artesanal, porque a industrializada “parece água de tão fraca”. Com seus costumes simples Olivia cruzou a fronteira dos 100 anos, o que só acontece com uma em cada 6 mil pessoas. Mais. Ela fez isso contradizendo a fórmula da vida longeva prescrita pelos médicos: alimentação equilibrada, atividade física e uma existência livre de vícios. Apesar de seus hábitos pouco saudáveis, Olivia nunca foi internada nem toma remédios (diz se proteger com reza e chá caseiro). Não tem sequer colesterol alto.

A vida longa e saudável de Olivia não inspira só aqueles que não conseguem abdicar de seus pequenos pecados cotidianos. Para muitos cientistas, gente como ela guarda o segredo da longevidade. Por que essas pessoas, com tantos anos a mais, parecem ter menos problemas de saúde do que a maioria de nós – que, já no meio da vida, sofremos com hipertensão, colesterol alto, diabetes e doenças cardíacas? “Os centenários são um modelo de como envelhecer porque conseguem postergar o aparecimento de doenças”, diz o geriatra Thomas Perls, pesquisador da Universidade de Boston, nos Estados Unidos. “Cerca de 90% permanecem sem problemas de saúde pelo menos até os 93 anos.” Na semana passada, Perls levou um grupo de cientistas ao mais próximo que a ciência já esteve de revelar o segredo da longevidade. Sua equipe publicou na revista científica Science, uma das mais importantes do mundo, uma análise da genética de 1.055 idosos entre 95 anos e 119 anos. Os cientistas investigaram o genoma dos centenários de Boston e arredores que integram um dos mais importantes projetos de pesquisa sobre envelhecimento, o New England Centenarian Study. Também participaram da análise genética idosos recrutados por uma empresa de biotecnologia americana.



Frente a frente com um grupo tão singular, os cientistas tiveram a chance de avaliar se a receita para uma vida longa estava escondida entre as letras químicas do nosso código genético. Eles compararam os genes encontrados nesses voluntários centenários aos genes de filhos de pessoas que morreram com menos de 73 anos. O resultado da pesquisa mostrou que o grupo de centenários compartilha cerca de 150 variações de genes, que seriam os responsáveis pela longevidade fora do comum – ou excepcional, como chamaram os pesquisadores.

Trata-se da vida longa, sem grandes problemas de saúde, experimentada pela brasileira Olivia e por vários velhinhos ou velhinhas que andam por aí. Se houver um desses em sua família, há bons motivos para comemorar, segundo o estudo liderado por Perls. A descoberta de genes mais frequentes entre as pessoas longevas mostra que, nesses casos, os fatores genéticos são mais importantes na determinação da duração da vida do que os ambientais (o tipo de alimentação e a prática de atividades físicas). Mas atenção: esses casos são exceção. Para a maioria dos mortais, os genes determinam apenas 30% da extensão da vida. Os outros 70% ficam a cargo de nossas escolhas, de como nos cuidamos.



fonte:Revista Época

3 comentários:

  1. amei seu blog, muito interessante esse texto!!!

    ResponderExcluir
  2. Acho que logo, logo, estaremos às voltas com Engenharia Genética já no Pré-Natal, ou ainda antes, usando destas informações. Será a volta da Eugenia, um pouco mais humanizada, é claro!

    Bjs!

    ResponderExcluir
  3. Oi !
    Nossa minnha vó tem 91 anos, não preisa de niguém pra fazer nada pra ela, está entre as raridades rs, lúcida, cheia de energia, afffff....eu mesmo as vezes fico olhando sem entender nada...e ela conversa de igual pra igual...nem queira saber se alguém conversar com ela como se ela fosse velhinha...rs
    Beijos

    ResponderExcluir

WWF

Seja um Voluntário


Procure uma entidade beneficente: